Capítulo 11 : O fim de uma história.
A cada passo que a criatura dava, era mais difícil para Marie ficar em seu lugar. Estava toda molhada, sem saber exatamente a origem daquilo. Chuva, percebeu. Nem os Céus conseguem ficar imparciais quando uma pessoa como ele morre. A criatura estava cada vez mais perto. Um passo. Outro. Outro. Marie olhou ao redor e encontrou uma espada de duas mãos em uma pedra perto de onde estava. Alcançou-a e esperou. Se você quer morrer, dê mais um passo, mentalizou, enquanto seu corpo só conseguia tremer.
Finalmente, a criatura chegara até eles. Parecia estar encarando o corpo de Kristian, mas não dava para ter certeza. Seu capuz extinguia qualquer traço de luz que tentava chegar ao rosto da figura. Mais negro do que qualquer noite que eu já vi. O estranho estendeu o braço para Kristian. Marie ergueu a espada o mais alto que podia e tentou cortar aquele braço fora. O estranho recuou um passo, e deixou-se observar Marie.
- Você consegue me ver ? - Perguntou, finalmente.
- Não, imagina. Só acho divertido cortar o ar no meio de uma guerra.
A criatura emitiu um barulho gutural. Risos, notou Marie.
- Já faz um tempo desde que um humano conseguiu me ver. Qual é o seu nome, criança ? - Sua voz era estranhamente neutra. Parecia conter de tudo um pouco, deboche, raiva, tristeza, agonia, divertimento e até mesmo prazer.
Fod*-se isso, agarrou a espada com mais força, levantou e atravessou a criatura, que não fez nenhuma menção de desviar. Este é meu nome para você, desgraçado. Morte, para você..
De novo o som gutural. A criatura achava engraçado estar sendo morta ?
- Morte, é o MEU nome. - Seus dedos foram largando a espada, um por um. Mas..., apavorou-se, meu corpo, não consigo.... A espada caiu na lama emitindo um barulho que teria sido alto, se não abafado pelos gritos agonizantes das pessoas ao seu redor. Seus joelhos dobraram-se, e logo estava curvada perante a criatura. Tentou utilizar toda sua força para controlar seu corpo novamente, em vão. - Mesmo patético e efêmero, seus esforços me agradam. Tudo por esse pequeno humano aqui ? - A Morte mostrou pela primeira vez alguma parte de seu corpo, ao pisar na cara de Kristian. Um pé humano.
- Tire. Seu. Pé.
- Hã, não pude ouvir ? - respondeu a Morte, rindo de um jeito que fez um calafrio percorrer o corpo de Marie.
- Eu. Disse. TIRE O SEU PÉ ! - A Morte deve ter libertado-a de seu controle, pois podia se mover novamente. Pegou a espada de novo e tentou decapitar o ser, novamente em vão. Mas o recuo que se seguiu mostrou que aquilo não era previsto pela criatura negra.
- Você consegue se mover ? Parece que te subestimei, então. Não se preocupe, não se preocupe. Não cometo um erro duas vezes. Para te dizer a verdade, é a primeira vez que errei.
Vômitos de sangue saíram da boca de Marie. Mas que diabos, tentou se concentrar. Ele se moveu ? Caiu no chão enquanto uma mistura de vômito e sangue continuava a escorrer de sua boca, fazendo sua garganta arder.
- Só alguns poucos órgãos vitais. Não estaria sentindo falta, estaria ? - Novamente, o riso.
A visão de Marie começara a se tornar borrada, enquanto cada vez menos sentia seu corpo. Apenas sentia o frio... Tão...frio.... Ao longe, viu Lucas. Sem um braço, tentava ganhar seu terreno. Mas tão pouco havia mudado em sua posição que a fez pensar se o tempo havia realmente passado ou estava apenas brincando com eles. Será que está...tão frio também para ele...? . Sabia que ele ia morrer, era uma questão de tempo. Liton ia perder a batalha, no final das contas. Conseguia ver ao longe o exército de seu tão passageiro lar recuar e recuar, enquanto eram derrotados. Eu nunca entendi... Os certos não sempre ganhavam, nas lendas ? . Deu um pequeno sorriso. Lendas são apenas lendas, no final das contas . Olhou Kristian. Mesmo tão fraca, lágrimas ainda caíam de seus olhos ao ver seu corpo sem vida. Não é, Kristian ?
A Morte se aproximou, curiosa sobre aquela mulher. Tudo pelo garoto ? Talvez aquele garoto também tivesse algo de especial. Se tivesse chegado um pouco antes, talvez conseguisse ver algum divertimento nele. Mesmo assim, conseguia sentir tudo que se passava dentro daquele humano, tão frágil e agonizante. Seu sofrimento era real, e sua tristeza era apavorante. Se a morte conseguisse chorar, não seria pelo seu sofrimento, pequena. Muitos sofreram antes de você, e muitos sofrerão depois de você. . Porém, estava cansado. Sempre olhara com desdém os humanos, mas não havia como negar que a humanidade tinha os seus feitos grandiosos. Uma vingança por um amigo, um casamento repleto de amor, o nascimento de uma criança. Coisas simples e coisas complexas, mas coisas grandiosas. Estava cansado de sempre estar presente apenas no fim. No fim, onde se mostravam como verdadeiramente são. Onde provavam se suas vidas haviam sido como explosões em um céu distante, ou como uma pequena vela cuja luz não alcançara nada nem ninguém. Talvez.... Retornou os órgãos da mulher. Sabia seu nome, sabia tudo sobre ela. Sentira o que ela sentira, sofrera o que ela sofrera. Ou pelo menos poderia dizer-se que sim. Esperou um momento até que a cor voltou aos olhos da mulher, e apesar de não parecer descansada, não parecia mais agonizante.
- Você também é um sádico, desgraçado ?.
Sorriu. Humanos são tão difíceis de compreender. .
- Só de vez em quando. É um dos meus hobbys, sabe. Quando se é eterno, tem que ver diversão em tudo, não concorda ? - Ela abriu a boca para responder, mas estava impaciente. - Cale a sua boca. Não quero te ouvir pois você não tem nada a dizer que me alcançará. Você quer que a sua pequena cidade saia vitoriosa deste conflito ? - Sentira também a preocupação dela por aquele tal de Lucas. Seria ele outro humano interessante ? - Você quer salvar o seu pequenino Lucas, coisa que você não conseguiu com seu Kristianzinho ? - O olhar confuso que ela lhe lançou divertiu-o. Nunca entendem nada .
- O que você quer di...- Começou a dizer, mas interrompeu-a :
- Já disse, não quero ouvir nada além de um sim ou um não. Decida.
Esperou um tempo, que pareceu mais longo do que estava acostumado a parecer. Eu passei uma eternidade fazendo o que deveria, que quando aparece uma chance de ficar apenas alguns poucos séculos sem obrigações, parece que o tempo passa mais devagar, filosofou.
- Aceito. - respondeu ela, com uma voz fraca. Era sim ou não. Desobediente até o fim, certo ? . Pôs a mão sobre ela e concentrou-se :
- Você se tornará a Morte. Pelo menos por um tempo. Eu vou apenas emprestar os meus poderes, por algum tempo. Alguns séculos, alguns anos. Não há como saber agora. Você terá no máximo um dia como uma humana ainda, e então seu corpo morrerá. Ainda quer seguir com isso ? Poderá salvar tudo, em troca do isolamento do que salvou até que o que você se sacrificou para salvar não mais exista, sendo apenas uma memória distante. Você quer isso ?
- Para quem não quer ouvir nada - arfou ela - você fala demais. Anda logo.
Deu uma gargalhada. Gostaria de passar algum tempo com ela. Talvez um dia, mas que assim seja. . E então uma nova Morte surgiu.
Lucas sentiu uma explosão fria do seu lado, e virou-se para olhar. Marie estava em pé, seus olhos brilhavam com um azul gélido. Debaixo de seus pés, uma poça de chuva havia se tornado gelo. Não entendeu o que viu, e seus sentidos fraquejaram. Tudo estava escuro e caiu em sua inconsciência.
Epílogo : Uma Morte.
Lucas havia acordado no outro dia, em sua cama na fortaleza de Liton, sendo tratado de seus ferimentos. Procurou saber de Marie, mas ninguém parecia saber quem era aquela. Seu pai havia morrido durante a guerra, e ele agora era o Rei Legítimo de Liton. Marie achou engraçado por um momento vê-lo de coroa e sem um braço, mas então deu as costas. Andou pelas ruas de Liton em direção ao campo de batalha. Diversos rumores corriam pelas ruas, tentando explicar o que havia acontecido ontem. Ninguém sabia ao certo, pois algo fez todos desmaiarem e quando acordaram, havia apenas um mar de sangue, enquanto não havia nenhum soldado inimigo. Seu corpo estava exposto através do seu novo manto (rasgado) negro. Mas não sentia frio, pois não havia frio mais gélido do que ela mesma. As paisagens foram mudando ao seu redor até que chegou ao corpo de Kristian. Não o haviam retirado, pois não o haviam encontrado. Ela escondeu o corpo dele. Ele é meu, e de mais ninguém . Havia aberto um buraco na melhor terra que encontrou, e depositou o corpo dele. Por cima, fez uma camada de uma substância que nunca saberiam o que é. Tão brilhante quanto um diamante, mas impossível de se tocar e ao mesmo tempo impossível de se passar. Era a coisa mais bonita que havia pensado para ele. E retirou sua alma. Sua tênue e confusa alma. E soltou-a para o vento carregar. Você renascerá em tantos corpos diferentes, e eu te acompanharei em todos eles... Até quando puder. Nunca estará só. .
Epílogo 2 :
As memórias de todos esses tempos fizeram a Morte chorar. Finalmente nos encontramos de novo, Kristian. Ou devo dizer, Victor ? Nunca mais nos perderemos. Nunca. Apertou-o em seus braços e soube que tudo estaria bem.
Nota do Áries-kun :
Desculpa a demora. Realmente, demorou muito. E eu poderia dizer tantas coisas para explicar isso, como o fato de que eu sou o vagabundo, e que frequentemente eu desanimo com a vida e perco a vontade de fazer tudo e quero apenas baixar meus filmes e comer meus bacons com ovos. E amanhã, vai lançar o novo Batman *_*. Oh yea, mudafucka, esse filme deve ser louco demais. Enfim. Está acabado, finalmente. E eu quero escrever de novo, mas eu não sei quando isso vai ser. E só vou escrever de novo quando ter certeza de que vou conseguir manter um ritmo constante até o fim.
No mais, é isso. Muito obrigado aos que leram e comentaram, espero que continuem comentando. Muito obrigado pelos que ainda vão ler. Pros que não gostaram, FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOD*-SE. Brinks xDDDDDDDDDDDD, obrigado por tudo, todos. Até a próxima.
PS : Pensei que ia ser mais longo esse último post. Mas tá do jeito que eu queria, acho.